Tazio Nuvolari o Mantuano Voador

Tazio Nuvolari se tornou uma lenda ainda em vida, seu arrojo e determinação sempre foi admirada inclusive entre seus pares. O italiano, que nasceu em Casteldrio, próximo a cidade de Mantua.  Quando serviu o exército foi motorista e seu arrojo dirigindo um caminhão lhe custou uma reprimenda e o conselho que se afastasse dos veículos, pois não tinha o dom para conduzí-los,

Sua estréia nas competições foi já tardiamente, com 28 anos, levado por seu tio Giuseppe, que era um negociante da Bianchi. Após pilotar Nortons, Saroleas, Garellis, Fongris e Indians, seu talento chamou atenção da poderosa equipe Bianchi, e logo se tornou campeão italiano. Durante os treinos para o GP da Itália bateu forte, e como resultado duas pernas fraturadas e pelo menos um mês de “estaleiro”.

Tazio no entanto no dia seguinte tomou parte na corrida, tendo solicitado aos membros da equipe que o amarrassem a motocicleta o ajudando na largada e depois na chegada. Surgia naquele dia a lenda, já que o piloto que ficou conhecido como Mantuano Voador, simplesmente venceu a corrida.

Sua estréia nas quatro rodas aconteceria quatro anos após ter estreado no motociclismo. Em 1927 decidiu montar sua própria equipe em parceria com outro motociclista bem sucedido (Achile Varzi), e compraram duas Bugatti 35B. A “sociedade” gerou também um intensa rivalidade, e como Nuvolari começou a ganhar corridas, Varzi deixou a equiper e adquiriu um Alfa P2 superando o rival devido ao carro muito superior. Em 1929 Nuvolari novamente formou dupla com Varzi, desta vez com os Alfa P2.

Em uma prova em 1930 Varzi pilotava a noite com os faróis totalmente acesos, e Nuvolari o seguia todo apagado, até que faltando três quilômetros para o final Nuvolari alinha ao seu lado pisca os faróis e parte para vitória.
Em 1932 Gabriele D'Annunzio presenteou Nuvolari com um emblema, uma tartaruga de ouro contendo a seguinte dedicatória: Para o homem mais rápido do mundo, o animal mais lento. Tazio considerou essa peça como um amuleto de boa sorte e passou a usá-lo como seu símbolo.

A velocidade do Mantuano sempre foi algo que impressionava sobremaneira, tanto que em uma prova de 1932 ele solicitou a Enzo Ferrari um mecânico jovem, inexperiente bem baixinho, menor até que ele. A recomendação de Ferrari a Nuvolari  é que para não traumatizar o jovem, é de que nas curvas mais perigosas onde fosse entrar mais rápido mandasse o rapaz se abaixar sob o painel.
No final Ferrari perguntou ao mecânico se Nuvolari gritou muitas ordens a ele. O rapaz disse que teve de descer o tempo todo para parte inferior do carro, ou seja da primeira a última curva do traçado. No ano seguinte se transeriu para Maserati, conquistando inúmeras vitórias, e também conduziu um MG K3 Magnette sobrealimentado. Um repórter perguntou ao final da corrida se havia gostado dos freios do MG, e a resposta do italiano foi um lacônico, não sei dizer, pouco os usei.

Dois anos depois voltou para Alfa, e neste ano estabeleceu a sua mais célebre vitória. Ele derrotou os carros Mercedes e Auto-Union, até então orgulho do regime Nazista. Para a corrida, Mercedes Benz tinha cinco W25 de 455cv, pilotados por Rudi Caracciola, Manfred Von Brauchitsch, Luigi Fagioli, Andreas Geier e Hermann Lang. Os quatro V-16 4.9L de 360cv da Auto Union eram pilotados por Achille Varzi, Bernd Rosemeyer, Hans Stuck e Paul Pietsch. Ambos os carros, conseguiam ultrapassar os 280 Km/h.

A Alfa Romeo tinha três históricos P3 3.8L 330cv,carros já ultrapassados, pois eram projetos com 3 anos, embora bastante confiáveis. Os pilotos eram Tazio Nuvolari, Louis Chiron, e René Dreyfus.

O ritmo imposto por Nuvolari , após uma parada de dois minutos e 14 segundo devido a um problema de reabastecimento, era muito mais que insano e sua perseguição aos rivais inexorável. A Alfa do piloto simplesmente voava na pista, e as condições no traiçoeiro e difícil traçado de Nürburgring haviam mudado.

O piso molhado obrigara a todos mudar seus pneus, um a um. Começa aqui a luta mais obstinada e perseguição mais memorável que se tem notícia. Varzi primava pela condução extremamente técnica, já Nuvolari pela sua habilidade inata o tornava parte integrante da máquina. Von Brauchitsch desgastava os pneus tentando manter a liderança, e Nuvolari em segundo já estava somente 43 segundos atrás. O alemão estabelece uma volta com média de 130 Km/h, algo mais que extraordinário no “Inferno Verde” molhado, sendo que nas retas passava dos 280 Km/h.


Na penúltima volta, von Brauchitsch tinha 35s de vantagem, às custas de continuar forçando o ritmo, mas o preço da ousadia seria muito grande. Varzi, que não morria de amores por Nivolari, nem sua habilidade ao pilotar também castigava violentamente seus pneus e ficava de vez fora da luta pela vitória. Na última volta, em Flugplatz, a apenas 8 km da linha de chegada, o mantuano já está 30 segundo atrás.  Ao passarem por Adenauerforst a diferença havia caído para 27 segundos, e no temido Karussel, menos de 200 metros o alemão e o italiano. Tudo levava a crer que a vitória do Mercedes era garantida.

Os alto-falantes já preparavam o hino alemão, quando o pneu esquerdo traseiro do carro de Von Brauchitsch começava a se desfazer, e o alemão brigava mais de 150 km/h com o carro para mantê-lo na pista. Apesar da habilidade de Brauchisch, Nuvolari o supera e diante de mais de 300.000 espectadores vence e frusta Adolf Hitler que desejava impor a superioridade da sua indústria diante do mundo. Stuck foi o segundo e Caracciola completou o pódio.

Em 1936 sofreu um sério acidente nos treinos para o GP de Trípoli. Fugiu do hospital em um taxi, voltou para disputar a corrida e terminou em sétimo lugar. Após a morte da estrela alemã, Brend Rosemeyer, Nuvolari foi por insistência de Ferdinand Porsche o escolhido para conduzir o potente Auto Union 16 cilindros, e com ele venceu o GP Britânico em Donington.

A Segunda Guerra Mundial forçou todos a pararem as competições. O último e grande momento de glória daquele que corria com um broche de tartaruga, calça azul e uma camisa amarela foi em 1948 com um Ferrari. Pilotando como um possesso uma rajada de vento arrancou a cobertura do motor.

Nuvolari disse para um apavorado mecânico que assim era melhor, já que o motor iria resfriar melhor. Depois de passar por Futa e Raticosa começou a sentir enjôo devido a escorregar no banco de couro do carro. Ele jogou fora o assento do carro e usou uma bolsa de lona, usada para colocar limões ou laranjas como almofada. O carro praticamente se desfazia sob seus pés, e a equipe o aconselhou a abandonar a corrida ao chegarem a Bolonha.

Nuvolari respondeu com um gesto irrisório, e partiu acelerando tudo que podia através da Via Emilia. Em Modena Enzo Ferrari chegou a implorar para seu amigo se retirar da prova. O inevitável aconteceu e o carro não resistiu, com a suspensão traseira quebrando e depois os freios ficando inoperantes de vez em Vila Ospizio.

Por telefone o mecânico comunicou a Enzo que o carro estava fora de combate, e Ferrari teria dito para consolar o mantuano que estariam de volta à prova no ano seguinte. Nuvolari respondeu ao amigo e patrão que naquela idade já não haviam mais muitos dias como aquele, e que apreciasse intensamente os momentos que ainda tivessem.

Nuvolari faleceu em 11 de agosto de 1953, e respeitando seu desejo foi enterrado com seu uniforme - a camiseta amarela e calça comprida azuis. 

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